Mais um o dado rumo à dignidade menstrual. Na tarde desta sexta-feira, dia 22, cerca de cinco mil absorventes foram entregues à Casa da Infância, no bairro Fábio Silva, em Criciúma. A iniciativa é do Poder Judiciário de Santa Catarina. A entrega foi realizada pela desembargadora e coordenadora estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid), Salete Silva Sommariva. A vereadora Giovana Mondardo, o prefeito Clésio Salvaro e o secretário de Assistência Social, Bruno Ferreira, também estiveram na ocasião.
“Nós nem conseguimos mensurar os prejuízos que a pobreza menstrual traz à sociedade. As meninas que frequentam escolas não têm coragem de ir, porque não têm como se proteger. Às vezes até acontece o pior e elas saem em uma situação de humilhação. Para essas meninas, os resultados desta campanha representam uma chamada de 'alguém lembrou de mim e eu estou incluída na massa'”, comenta a desembargadora, Salete Silva Sommariva.
Mobilização do Poder Judiciário
A campanha do Judiciário Catarinense, denominada “Dignidade Menstrual'', arrecadou cerca de 60 mil absorventes, que foram distribuídos em algumas comarcas do Estado. Em Criciúma, os itens foram encaminhados à Casa da Infância, entidade que atende 73 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, com idades entre seis e 17 anos, do bairro Fábio Silva. Lá, elas recebem assistência e participam de oficinas de cultura no contraturno escolar.
“Muitas mães, com crianças pequenas, de repente, precisam ir no 24h e não podem ir, porque não tem como se proteger [da menstruação]. Por isso, essa ação é muito representativa. Mesmo em casa, ela não pode ser humilhada a ponto de não ter essa proteção. Então, vai ser um recomeço, um aceno da sociedade para as pessoas excluídas de que existe preocupação e de que em todos os aspectos elas vão receber essa proteção”, enfatiza a desembargadora.
Realidade em Santa Catarina
A pobreza menstrual é uma realidade em todo o país, afirma Salete. “Eu acho que a situação em Santa Catarina é uma das menos piores, porque é onde o nível de desemprego é menor do que no restante do país e o nível econômico e a renda per capita são maiores. Aqui no Estado, façamos uma analogia para ver o que será em São Paulo e no Rio de Janeiro”, acrescenta. “As pessoas, agora, estão unidas. A partir disso, coisas maravilhosas estão acontecendo”, opina a desembargadora, a respeito da mobilização.
Segundo a representante do Conselho Municipal de Direitos das Mulheres, Patrícia Vedana Marques, que também esteve na entrega dos absorventes, a pobreza menstrual e a dificuldade de o ao item pelas mulheres já vem sendo discutida em Criciúma. “É um assunto que até pouco tempo atrás não era falado, nem discutido. Existe um tabu muito grande e é uma questão que precisa ser vista. Ações como essa, que traz o à população, a gente vê com bons olhos”, pontua.
A falta de renda e as dificuldades econômicas acentuam a pobreza menstrual. “As famílias precisam priorizar a alimentação e o leite para os filhos. Essas mulheres se colocam em segundo e terceiro lugar. Ações como essa, que a gente garante qualidade de vida, e a parceria com a sociedade civil organizada, são de extrema importância”, ressalta Patrícia.
Problema também acomete cidades menores
A dificuldade de o aos absorventes não é restrita às grandes cidades. “A gente tem hoje, em Criciúma, 10 mil famílias cadastradas no CADúnico, que garante benefícios federais, por exemplo, o antigo Bolsa Família. Aí, percebemos que há um recorte de vulnerabilidade no município. Muitas vezes só conhecemos o eixo da Centenário, mas existem as comunidades de carentes que precisam disso”, frisa a conselheira.
Os cinco mil absorventes já começaram a ser distribuídos no bairro Fábio Silva. “Nós vamos entregar para as mães e meninas das famílias mais carentes que atendemos e também para outras famílias carentes que não têm crianças na idade de estar aqui conosco, mas que são atendidas na entidade”, explica a presidente da Casa da Infância, Bianca Bez Batti Dias.